Vivemos uma “pandemia” de ansiedade no Brasil. Pandemia essa que não tem data para acabar se olharmos nossos desafios econômicos, políticos e sociais. Afinal, eles nos geram insegurança e incerteza. Segundo dados de pesquisa trazidos pela OMS, vivemos no país mais ansioso do mundo.
Diante desse cenário, tenho certeza de que cada um de nós já conviveu com a ansiedade, direta ou indiretamente, tendo uma história para contar.
Como coach, recebo pessoas ansiosas o tempo todo. Meu olhar clínico, como psicóloga, me ajuda a abordar da melhor e mais adequada maneira as demandas trazidas por essas pessoas que estão diante de mim pedindo ajuda.
Nesse contexto, uma pergunta sempre vem à minha mente: devo seguir com esse cliente no processo de coaching ou devo encaminhá-lo para uma terapia? Como lidar com essa ansiedade demonstrada no processo de coaching?
Neste artigo, quero respostas para essa pergunta, tendo como base minha experiência prática como coach e psicóloga. Espero que seja esclarecedor para você. Vamos lá?
Mas, antes, o que é ansiedade?
“O medo e a ansiedade são faces da mesma moeda no complexo mecanismo de sobrevivência e autoproteção da espécie humana. Sentir medo e ansiedade, além de ser bastante normal, é algo previsto e necessário para nossa existência. “
Ana Beatriz Barbosa Silva, no livro Mentes Ansiosas – o medo e a ansiedade nossos de cada dia.
A Dra. Ana Beatriz, como psiquiatra, traz ainda essa afirmação muito bem colocada em sua obra: “super-humanos não existem e nunca existirão, pois se um dia chegarmos a não sentir medo ou ansiedade, teremos deixado de ser humanos na mais fiel acepção da palavra.”
Existem diferentes tipos e níveis de ansiedade. De uma forma bem simplista, eu diria que sentir ansiedade em um nível “normal”, aquela que não nos causa dor psíquica e sofrimento, é sentir aquele friozinho na barriga.
Sabe aquele friozinho na barriga antes de subirmos no palco para darmos uma palestra ou participarmos de uma reunião de negócios? Ou mesmo aquele friozinho na barriga quando estamos diante de um cliente ou paciente questionador? Ou fazendo uma prova para um concurso público?
Esse friozinho na barriga tem como base a emoção do medo em uma proporção pequena, que não nos paralisa, mas traz uma certa preocupação pelo desconhecido, totalmente saudável.
Sempre lembro de uma entrevista com a atriz Fernanda Montenegro em que ela fala que hoje, mais madura e com tantos anos de profissão, toda vez que sobe no palco em um dia de estreia, sente um “friozinho na barriga”. Ou seja: isso é ansiedade, o medo pelo novo, que é desconhecido e precisa ser enfrentado.
Como saber se a ansiedade está me atrapalhando?
Como já mencionei anteriormente, existem vários tipos e diferentes níveis de ansiedade, sendo que alguns nos levam a quadros patológicos, ocasionando muita dor e sofrimento psíquico e atrapalhando a nossa vida social.
Uma mente ansiosa é uma mente acelerada rumo ao futuro. Ela se apresenta no futuro dentro de uma perspectiva de que algo ruim possa acontecer. É claro que considera-se o grau (leve, mediano, forte) que a ansiedade está sendo vivenciada.
Eu diria que a ansiedade em um nível de intensidade alto atrapalha o fluxo da vida, até mesmo chegando ao ponto de nos paralisar. Isso nos impede de fazer algumas tarefas, ir ao trabalho ou à uma festa de aniversário.
Trazendo para você uma visão objetiva, mas não profunda sobre os transtornos decorrentes da ansiedade, temos:
Transtorno de pânico
Na minha opinião, o mais desafiador, por se constituir de crises agudas de ansiedade imensuráveis e em um curto espaço de tempo
TOC (Transtorno obsessivo compulsivo)
Conhecido pelas “manias” obsessivas de quem o desenvolve. Aqui, vale a indicação de um filme que fala sobre esse assunto de forma muito leve: Toc Toc.
TAG (Transtorno de ansiedade generalizada)
O TAG vai além da ansiedade natural. É uma doença, que precisa de tratamento, acompanhamento psicoterápico e, muitas vezes, até medicação.
TEPT (Transtorno estresse pós-traumático)
É importante que estejamos atentos ao que sentimos e como isso está refletindo em nossas vidas, pois o quanto antes tratarmos mais saudáveis estaremos.
Coaches devem atender pessoas com quadro de ansiedade?
Em primeiro lugar, é importante que o coach perceba a ansiedade no cliente. Se o cliente não falar sobre ela, ele precisa colocar sua percepção e até mesmo perguntar, para poder endereçar essa demanda da melhor maneira.
É muito importante entender o grau de ansiedade e como ela se manifesta. Se ela estiver em um grau alto, que cause sofrimento psíquico, paralisando e impedindo o coachee de fazer algumas coisas e seguir em frente, não é papel do coach e sim do psicólogo atender esse cliente em psicoterapia.
Como o coach não é uma profissão certificada aos psicólogos ou profissionais da área de saúde, vejo que existem erros de conduta pela falta de experiência e entendimento desses quadros por parte desses profissionais, o que é um tanto quanto delicado e até perigoso. Afinal, ao invés de atuar de forma a minimizar a ansiedade do cliente, acontece o contrário, a ansiedade é potencializada pelo coaching ser um trabalho com foco em metas e resultados.
Como abordar o cliente que apresenta ansiedade em processos de coaching?
Acolhimento, essa é a palavra da vez.
O coach deve acolher o coachee e colocar-se em uma postura de escuta ativa e sem juízo e valor. Nesse momento, é preciso ouvir mais do que falar. Mesmo que o coach não entenda os sintomas que seu coachee está trazendo, é importante estar atento aos movimentos de inquietação, mente acelerada, falta de foco, angústia, etc.
Uma boa percepção do quadro por parte do coach ajudará o coachee a entender se deve ou não atender esse cliente em um processo de coaching ou encaminhá-lo para o psicólogo.
Em minha rotina profissional, já tive conhecimento de casos em que o coach não conseguiu fazer uma boa leitura do quadro do cliente, que era um quadro que se apresentava como crises de ansiedade, e seguiu com o processo de coaching, levando o coachee a aumentar sua ansiedade por trabalhar com metas de forma agressiva e abstrata. No fim, o coachee abandonou o trabalho por exaustão.
A ansiedade pode ser positiva? Como o coach deve trabalhar com esse tipo de ansiedade?
Sim! A ansiedade pode ser positiva e não nos atrapalhar, mas sim nos impulsionar em nossas realizações.
Ela ajuda como um combustível para alcançarmos nossas metas e desejos. Quando temos uma boa autopercepção sobre quem somos e sobre como lidamos com as situações da vida, incluindo nossas características ansiogênicas, sabemos com maior clareza onde e como chegar lá.
Minha sugestão é que o coach aproveite essa ansiedade do coachee para motivá-lo a conquistar o que deseja e eu particularmente acredito que um dos caminhos para isso é trabalhando o seu autoconhecimento e ajudando-o a entender o sentido do trabalho que realiza, do lugar que trabalha e dos impactos que gera.
Conclusão
O coach precisa se atentar à pressa do ansioso. Com sua ansiedade e entusiasmo, ele tende a fazer e resolver as coisas com rapidez, podendo deixar passar algum detalhe, tomar alguma decisão precipitada ou até mesmo não respeitar o tempo do outro.
Forte abraço e até próximo post!