Você já viveu momentos em que seus conflitos internos te levaram a intensos questionamentos, gerando, assim, uma sensação de melancolia e insuficiência de forma que se sobressaiam? Se a sua resposta for positiva, é provável que você tenha passado por uma crise existencial daquelas sem nem perceber.
Neste texto, você vai entender que essas crises são mais comuns do que imaginamos e como elas se manifestam. Também vou compartilhar algumas dicas que vão ajudá-lo(a) a lidar melhor com a sensação de insuficiência decorrente de momentos conflituosos, pelos quais todo mundo já passou ou vai passar algum dia.
Boa leitura!
Antes de mais nada, o que é uma crise existencial?
São momentos de grande reflexão e questionamento. É quando algumas coisas não estão mais se encaixando em você.
Contudo, esses momentos podem ser promovidos por alguns gatilhos, como ser demitido, a perda de um ente querido, a sensação de não termos atingido a performance ideal ou até mesmo uma comparação excessiva com alguém.
Portanto, é aí que tendemos a nos questionar sobre as escolhas que fizemos. Dessa forma, é normal entramos em conflito com nós mesmos.
E, além das dúvidas, é comum nos sentirmos solitários e incompreendidos em momentos de crise existencial. Outra característica é a sensação de insuficiência, de que você não é bom o bastante.
Só para ilustrar, Fernanda Pacheco Ferreira, doutora em Psicologia Clínica, discute o mal-estar contemporâneo, que se insere hoje em dia muito mais no registro do corpo, da ação e da intensidade. De acordo com ela, “somos tomados pela vergonha de não ter atingido uma performance ideal, pela sensação de insuficiência”.
“Será que eu deveria ter escolhido o emprego A em vez do B anos atrás?”, “como a minha vida teria sido se eu tivesse ido em frente com o plano de morar fora?”, “nossa, fulana só tem x anos e já conseguiu tudo isso” são alguns dos “pensamentos-martelo” que vêm à mente quando estamos em crise com nós mesmos, causando essa sensação de insuficiência e vergonha.
Por isso, é importante lembrar que, quando tornam-se constantes, esses pensamentos gastam boa parte da nossa energia mental, atingindo a saúde do cérebro, justamente por serem negativos e pessimistas.
Mas por que nós temos essas crises?
Com toda a certeza, vivemos em um período muito conturbado em diversos aspectos.
Nosso tempo é cada vez mais escasso, vivemos uma pressão desmedida no campo do trabalho e, particularmente, no Brasil, o cenário político-econômico não ajuda nem um pouco.
Todos esses fatores são determinantes para desencadear uma série de problemas nas pessoas, algo que já estamos presenciando atualmente.
Tanto é que, curiosamente, houve um pico pela procura do assunto “crise de existência” no Google na semana do Carnaval deste ano, de acordo com o Google Trends. Certamente, algo muito curioso.
Produtividade 24 horas por dia
Outro aspecto a ser salientado que contribui muito com a sensação de insuficiência é a busca pela alta produtividade constante.
Quer um exemplo? Leia esta frase: “treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham”. Com toda a certeza, você já leu algo parecido em algum lugar e, também deve concordar com a ideia central da mensagem, que é o esforço.
Entretanto, nos dias de hoje, existe uma espécie de imposição para que nós sejamos produtivos o tempo todo. Acontece que nós também precisamos de um pouco de ócio. Nosso cérebro precisa descansar.
Em seu livro “A sorte segue a coragem”, Mario Sergio Cortella fala que “nota-se cada vez mais a incapacidade de simplesmente pararmos” e isso faz muita falta, principalmente para a nossa higiene mental. Tais atitudes nos levam a sentimentos como o de insuficiência e, consequentemente, baixa autoestima.
Redes sociais e a pressão pela realização constante
Segundamente, o fenômeno das redes sociais também me chama atenção. Quantas vezes você já se comparou à uma amiga que se formou com você ou com quem estudou na escola? Em quantos momentos você não se encontrou naquela famosa “bad”, usando essa gíria do mundo virtual, por não estar onde achou que estaria?
O mundo anda cobrando muito de nós mesmos e o meu objetivo com este texto não é a incentivar a indolência e a acomodação, que fique bem claro.
Pelo contrário, acredito demais no potencial humano, no autodesenvolvimento e em tudo o que podemos fazer.
No entanto, eventualmente, precisamos parar e olhar com mais carinho para nós mesmos. Precisamos parar.
E isso faz sim diferença. Só para ilustrar, no coaching, por exemplo, realizo alguns exercícios com os coachees justamente para que eles enxerguem as suas qualidades e, assim, é possível diminuir a sensação de insuficiência para potencializar o trabalho.
Como a crise existencial pode se manifestar?
De acordo com o que já mencionei anteriormente, os questionamentos e a sensação de que algo está errado em você, são os primeiros sinais de que você está em crise. Quando você não enxerga mais propósito no que faz, seja no trabalho ou na vida pessoal, as perguntas surgem mesmo, é normal.
Diante disso, você também pode ter um sentimento muito forte de não pertencimento e inadequação, além de, claro, sentir-se insuficiente, como já falamos no texto.
Além do mais, a comparação excessiva com outras pessoas, a meu ver, mais bem-sucedidas e o desânimo são outras manifestações.
Como lidar com a sensação de que não sou capaz?
A psicóloga Sofia Bauer fala sobre a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro aprender coisas novas à base da repetição, de ações, palavras, pensamentos, sentimentos e se modificar.
Assim, se nós desafiarmos o cérebro a aprender algo novo, criamos novas sinapses, ou seja, novos caminhos. Dessa forma, se incentivarmos as sinapses positivas com pensamentos positivos que reforcem a sua capacidade, treinamos a mente para que ela enxergue o mundo por meio dessas lentes :).
“Mas, Cris, o que são sinapses positivas?”. Em resumo, as sinapses são o encontro entre um neurônio e outro. Só para exemplificar: quando pensamos, os nossos neurônios conectam-se por meio das sinapses. Logo, quando temos bons pensamentos, produzimos sinapses positivas.
Eu também não poderia deixar de reforçar sobre a importância de nos autoconhecermos.
O autoconhecimento nos traz um nível de maturidade que conseguimos entender nossas forças e limitações, pois temos mais consciência sobre quem somos e o que queremos. Esse entendimento nos ajuda a ter a sensação de que fizemos o nosso melhor e não de que não somos capazes.
Conclusão
Apesar de parecer algo ruim, as crises existenciais possibilitam uma pausa necessária na pressa do dia a dia para pensarmos. Assim, nós conseguimos nos conhecer melhor e o autoconhecimento traz muitos benefícios. Por isso, tente enxergá-la como algo positivo.
Mas é claro que precisamos ficar atentos aos sintomas, pois crises existenciais podem ser sinais de desenvolvimento de algumas doenças, como a depressão, as crises de ansiedade e de pânico. Nesse caso, o ideal é procurar ajuda e a psicoterapia é muito recomendada.
Forte abraço e até a próximo post!
